Doomscrolling Desencadeia Crise Existencial: Como o Consumo de Notícias Afeta Nossa Saúde Mental

Doomscrolling Desencadeia Crise Existencial: Como o Consumo de Notícias Afeta Nossa Saúde Mental

Doomscrolling, o hábito de consumir incessantemente notícias negativas nas redes sociais, está associado a uma crise existencial e sentimentos de desespero. Pesquisas revelam que esse comportamento afeta nossa percepção da vida e da humanidade, promovendo ansiedade e pessimismo.

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Natalia Rocon
Última atualização: 26/07/2024

Doomscrolling provoca crise existencial e pessimismo, afetando nossa visão da vida e da humanidade, segundo novo estudo

Em um mundo onde a informação está à distância de um toque, surge um fenômeno peculiar e preocupante: o doomscrolling. Este termo refere-se ao hábito de passar longos períodos consumindo notícias negativas nas redes sociais, como desastres naturais, atos de violência, terrorismo e teorias da conspiração. Apesar de soar como um comportamento inofensivo, novas pesquisas sugerem que o doomscrolling pode estar desencadeando uma crise existencial entre os usuários.

Um estudo recente da Universidade Flinders lança luz sobre os impactos profundos desse comportamento, sugerindo que o doomscrolling altera a forma como percebemos a humanidade e o significado da vida. Ao explorar o impacto psicológico e emocional de consumir notícias traumáticas, os pesquisadores descobriram que esse hábito pode nos tornar mais desconfiados, pessimistas e até mesmo questionadores do propósito de nossa existência.

As Raízes do Doomscrolling

Doomscrolling tornou-se um fenômeno comum em meio à ascensão das redes sociais, onde as notícias são constantemente atualizadas e apresentadas de maneira sensacionalista para capturar nossa atenção. O termo “doomscrolling” combina “doom” (desgraça) e “scrolling” (rolagem), refletindo a ação de rolar incessantemente por histórias trágicas e perturbadoras. Embora este comportamento possa parecer uma busca por informações, ele rapidamente se transforma em um ciclo viciante de negatividade.

Pesquisadores entrevistaram 800 estudantes universitários de culturas distintas, uma coletiva (Irã) e outra individualista (Estados Unidos), para avaliar como o consumo excessivo de notícias negativas nas mídias sociais afeta sua percepção do mundo e de si mesmos. Os resultados mostraram que o doomscrolling está fortemente associado à ansiedade existencial, um estado de preocupação com a própria existência e mortalidade.

Ansiedade Existencial e Misantropia

O estudo revelou que o doomscrolling não só aumenta a ansiedade existencial, mas também promove sentimentos de misantropia – uma aversão generalizada à humanidade. Para os participantes iranianos, essa aversão era ainda mais pronunciada, sugerindo que a cultura pode influenciar a maneira como reagimos ao conteúdo negativo.

Segundo o autor principal do estudo, Sr. Reza Shabahang, “O doomscrolling pode ter consequências terríveis para nossa saúde mental e bem-estar, deixando-nos estressados, ansiosos, desesperados e questionando o significado da vida.” Ele enfatiza que o impacto psicológico desse comportamento é comparável ao trauma vicário, onde uma pessoa sofre efeitos negativos ao ser exposta a eventos traumáticos, mesmo sem tê-los vivenciado diretamente.

O Perigo da Desinformação

Em um mundo digital, onde a informação é abundante, a qualidade das notícias consumidas nem sempre é verificada. As plataformas de mídia social frequentemente favorecem conteúdo sensacionalista, promovendo uma visão distorcida da realidade. Isso pode exacerbar a sensação de desespero e impotência, alimentando o ciclo de doomscrolling.

A pesquisa destaca que, ao serem expostas a imagens e informações sobre eventos traumáticos, as pessoas experimentam sintomas semelhantes ao transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), como ansiedade e desespero. Este é um lembrete importante de que o consumo excessivo de conteúdo negativo pode ter sérias repercussões na saúde mental.

O Papel das Redes Sociais

As redes sociais, projetadas para conectar pessoas e compartilhar informações, tornaram-se um espaço onde o doomscrolling prospera. Os algoritmos dessas plataformas muitas vezes priorizam conteúdo que provoca reações emocionais fortes, aumentando o engajamento dos usuários. No entanto, essa estratégia pode ter um custo alto para o bem-estar mental.

A facilidade de acesso a informações de todo o mundo transforma o ato de se informar em uma experiência potencialmente traumática. O impacto emocional das notícias é amplificado pela proximidade com a qual são apresentadas, criando uma sensação de urgência e medo.

Estratégias para Combater o Doomscrolling

Diante dessa realidade, é crucial desenvolver estratégias para mitigar os efeitos negativos do doomscrolling. O Sr. Shabahang sugere que as pessoas sejam mais conscientes de seus hábitos online e façam pausas regulares na exposição a notícias negativas. “Sugerimos que as pessoas prestem atenção em quanto tempo estão gastando nas mídias sociais e estejam cientes do impacto que isso está tendo em suas emoções, pensamentos e sentimentos,” afirma ele.

Algumas dicas práticas incluem:

  • Limitar o Tempo de Tela: Defina um limite diário para o tempo gasto em redes sociais, especialmente em busca de notícias.
  • Curadoria de Conteúdo: Escolha seguir fontes confiáveis e diversificadas, que ofereçam uma visão equilibrada dos eventos mundiais.
  • Pausas Regulares: Faça pausas frequentes no consumo de notícias para evitar a sobrecarga emocional.
  • Foco no Positivo: Busque ativamente por histórias positivas e inspiradoras para contrabalançar o fluxo de negatividade.

A Busca por Significado em Tempos de Incerteza

Embora o doomscrolling possa parecer um comportamento inofensivo, este estudo destaca sua capacidade de evocar uma crise existencial, impactando nossa percepção de nós mesmos e do mundo. Em tempos de incerteza, é fundamental encontrar um equilíbrio entre se manter informado e proteger a saúde mental.

O artigo “Doomscrolling evoca ansiedade existencial e promove pessimismo sobre a natureza humana? Evidências do Irã e dos Estados Unidos” publicado no Computers in Human Behavior Reports Journal oferece insights valiosos sobre como podemos navegar melhor pelas águas turbulentas da era digital.

Em última análise, ao reconhecer o impacto do doomscrolling e tomar medidas para gerenciá-lo, podemos encontrar um caminho mais saudável e equilibrado em nossa interação com a informação. A conscientização sobre nossos hábitos online é o primeiro passo para garantir que nosso bem-estar mental não seja comprometido pela incessante maré de notícias negativas.

Conclusão

O doomscrolling, embora inicialmente um comportamento passivo, pode ter profundas implicações para nossa saúde mental e nossa visão do mundo. Como sociedade, é crucial que reconheçamos o poder que temos de moldar nossa experiência online, priorizando conteúdo que nutra em vez de esgotar nosso bem-estar emocional. Ao cultivar uma abordagem mais consciente e equilibrada, podemos enfrentar os desafios da era digital com resiliência e clareza.

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